DO TRABALHO VOLUNTÁRIO À INOVAÇÃO PELA MÚSICA
O servidor do TJSP Antonio Carlos Silva Santos começou um trabalho voluntário com jovens carentes de uma comunidade para que eles encontrassem na música um novo caminho. Quando percebeu, já estava exercendo a atividade musical em vários locais e eventos. Atualmente é cantor, compositor e inovou com o “Cantando Vidas”, inciativa por meio da qual elabora canções personalizadas.O Projeto Jus_Social apresenta um pouco dessa história.
Natural da zona leste paulistana, cresceu no bairro da 3ª Divisão, em São Mateus. Seus pais Arnaldo Carneiro dos Santos e Maria Laudicéia Silva Santos tiveram mais duas filhas, Adriana e Vitória. Antonio Carlos é casado com Vanilda da Anunciação Pereira Santos e pai de Raul Anunciação Santos, 12 anos, e Maria Flor Anunciação Santos, de cinco meses. Graduou-se em Direito, é palestrante, mediador e conciliador formado pela Escola Paulista da Magistratura e, em 2014, ingressou no TJSP como assistente técnico de gabinete judiciário no setor de Regime de Admissibilidade de Recursos Extremos (Especiais e Extraordinários), da Seção de Direito Público.
Antonio Carlos foi policial militar por 15 anos, sendo oito dedicados à prevenção às drogas e à violência pelo Proerd (Programa de Educação e Resistência às Drogas e à Violência), onde ministrava aulas a jovens de 4ª e 6ª séries. Foi instrutor do programa JCC (Jovens Construindo a Cidadania), onde realizava trabalho social com menores infratores em liberdade assistida e cumprimento de medida socioeducativa.
Possui dois cursos de Extensão Universitária sobre drogas – um é o Fé na Prevenção, da Universidade Federal de São Paulo e o outro Conselheiro Comunitário de Atenção às Drogas, da Universidade Federal de Santa Catarina; curso para coordenadores e dirigentes de comunidade terapêutica pela Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract), e ainda outros pelo Portal da Educação, pelas Polícias Militar e Civil, sendo que até hoje orienta famílias sobre prevenção e ressocialização.
O lado artístico – a música entrou na sua vida de maneira inusitada. Sempre realizou trabalhos voluntários, mas a pedido de um padre começou a trabalhar com um grupo de jovens que foram realocados, saíram de uma favela na Vila Prudente e foram para prédios construídos pelo governo estadual no bairro de São Mateus. Antonio Carlos e seu amigo Getúlio botaram a mão na massa e trabalharam para atrair os jovens às reuniões a fim de que encontrassem na música um novo caminho. “Chegávamos 30 minutos antes para tocar violão e cantar um pouco com eles. Não demorou muito para começarem a me fazer convites para cantar em casamentos. Aceitei e quando percebi já cantava em festas, bares e em diversos outros locais.”
O TJSP e sua vida artística – “Amo o Direito, creio que sem ele não se faz justiça. O TJ me propicia horário de trabalho que me sobra tempo para dedicar à música, claro que com a participação da família, já que componho e gravo na sala de casa. Direito e música são duas paixões que me completam”, conta.
Para ele, a atividade artística contribui para exercer suas funções no Judiciário. Ele ressaltou que amúsica acalma a alma e potencializa o intelecto. “Pensar nos acordes, ritmos e sentir a suavidade da música me trazem a calma, paciência e concentração que inevitavelmente traduzo em ações e pensamentos em meu dia a dia aqui no Tribunal”, revela o servidor-artista. Atualmente, além de compor, canta em casamentos, festas e outros eventos.
“Cantando vidas”, a canção personalizada – a iniciativa também surgiu daquilo que parecia apenas mais uma contratação para tocar em festa de aniversário, dessa vez do senhor Zezilo, um maranhense. Antonio conversou com a filha dele para saber mais detalhes de sua vida com a finalidade de revelar antes de cantar os parabéns. “Ao ouvir sua história, fiz uma pequena pausa no coração e percebi que daria uma música.” Assim, na madrugada que antecedeu o aniversário, começou a compor uma música, com letra, ritmo e melodia inéditos, em voz e violão. Quando apresentou, para sua surpresa, o aniversariante e os presentes se emocionaram. “Na mesma festa, outras pessoas me procuraram para saber como funcionava. Já fiz canções de aniversário, noivado, casamento e jingle“, declara.
Como funciona a inovação – o contratante conta ao músico um pouco sobre o homenageado e ele completa entrevistando alguns amigos e/ou familiares. Com base nas informações, cria a canção personalizada, sendo que a pessoa pode ainda escolher o ritmo e os instrumentos que serão utilizados na gravação. Ele faz vídeo com relatos e edita uma retrospectiva que apresenta no dia da festa, que pode ser disponibilizada também, se for a vontade do homenageado, em canal no YouTube para que ele possa compartilhar com amigos em qualquer momento e lugar.
Novo projeto – Antonio está trabalhando em seu primeiro CD, que contará com dez músicas autorais e uma regravação de um amigo (Sonhos e Mitos, de Cacá Lopes – que é deficiente físico, tem paralisia total no braço esquerdo e canta e toca violão com apenas uma das mãos). O CD contará também com a canção Onde você levar, de Flávia Bittencourt, uma amiga maranhense.
Fato cômico – como todo músico sempre tem algo engraçado para contar, Antonio Carlos também tem sua história. Em 2003, sofreu acidente de trânsito e precisou ser resgatado pela Unidade de Resgate dos Bombeiros. No mesmo dia ele seria o padrinho de casamento e cantaria durante a cerimônia. Ao chegar em casa, tomou um “banho de gato”, já que estava com a perna engessada e cheio de curativos, e foi para a igreja. “Entrei com os demais padrinhos (pulando com uma perna só), me coloquei no lugar destinado aos músicos e comecei a cantar. Só por isso, já havia chamado atenção o suficiente”, relembra. Porém, a menina que traria as alianças entrou no momento errado e uma pessoa decidiu ir ao seu encontro e impedi-la, mas ao descer do altar pisou em falso e caiu em cima da perna dele, que estava machucada. “Eu estava no meio de uma música e não pude evitar um gemido de dor no meio da canção, o que fez com que os presentes respondessem também com um sonoro ‘hummmm’, movimentando toda a igreja. A música seguiu, apenas instrumental, e muita gente correu para me socorrer. Eu chamei mais atenção que a própria noiva!”
Projeto Jus_Social – este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no dia 1º de cada mês, de uma matéria diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que, de alguma forma, realizam atividades que se destacam entre servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, em campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que os diferencie. Com isso, anônimos ganham vida. Com o Jus_Social, o Tribunal de Justiça de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).